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Tenho opiniões sobre muita coisa, gosto de discutir ideias e gosto de ler. Como já ninguém me ouve, decidi começar a escrever. Não me levem muito a sério.
Ontem terminei de ler este livro e foi dos que mais gostei de ler este ano. Anthony Doerr ganhou, em 2014, o Pulitzer Prize for Fiction e o Goodreads Choice Awards Best Historical Fiction com este livro e podem consultar a sinopse aqui. Resumindo (para quem não quiser ir ver) este livro passa-se durante a Segunda Guerra Mundial e acompanha a história de Marie-Laure LeBlanc, uma parisiense que fica cega aos 6 anos, e Werner Pfennig, um órfão alemão cujo destino é vir a trabalhar nas minas onde perdeu o seu pai, e que se apaixona por rádios. O livro vai-se desenrolando em capítulos alternados entre as personagens, com avanços e recuos no tempo. Parte do interesse do livro reside exactamente neste aspecto, passamos de 1940 para 1944, num vai e vem que, ao mesmo tempo que revela um pouco do que vai acontecer, deixa-nos à beira da cadeira quando temos de voltar de novo atrás no tempo.
O que mais gostei neste livro foi a impossibilidade de compreendermos os outros. Embora seja uma coisa quase básica a verdade é que nem sempre através dos actos conseguimos perceber a personalidade dos outros. Isso é levado quase ao extremo neste livro pelos condicionalismos da guerra, costumamos dizer que as guerras trazem ao cimo o melhor e o pior de cada um, mas e se o pior não é mais do que uma acção condicionada pelo ambiente em que estamos? Sim, de boas intenções está o inferno cheio, mas e se as coisas não forem assim tão lineares? Acho que essa foi a reflexão mais importante que retirei deste livro. Não sei se é esse o objectivo do escritor mas para mim o título é uma alusão ao carácter das pessoas, há muita luz nos outros que nós não conseguimos ver.
Outro aspecto que gostei bastante neste livro é o clima de guerra. Escolhi a minha área de formação também por gostar de História, e a Segunda Guerra é das minhas áreas de estudos preferidas, o que faz com que leia muito sobre o tema - tanto ficção como não-ficção. Por mais livros que leia sobre o assunto, por mais documentários que veja, sempre que volto ao tema há uma afição que me incomoda, um medo terrível de um dia me ver num ambiente de guerra total, como aconteceu nesta guerra. Todas as privações, todos os condicionalismos, todo o medo que a guerra gera incomoda-me. Mas incomoda-me de uma forma que me leva a querer saber mais. Tenho a convicção que actualmente existem poucas pessoas que tenham realmente medo da guerra ou sequer percebam o quão violento realmente é. Têm aquela visão romântica dos filmes em que o Rafe volta dos mortos e depois dá uma tareia nos japoneses. Nunca vivi nenhuma guerra, é verdade, mas já vivi, através dos livros, na pele de pessoas que a viveram e não consigo descrever a aflição que sinto enquanto leio.
Como o texto já vai longo termino a minha reflexão dizendo que embora seja um livro relativamente grande (cerca de 550 páginas) lê-se bastante bem porque os capítulos são pequenos e vão saltando entre personagens. Também a escrita é fácil de seguir, sem grandes floreados mas interessante. Li no Kobo e, ao nível do peso, facilitou muito!