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Tenho opiniões sobre muita coisa, gosto de discutir ideias e gosto de ler. Como já ninguém me ouve, decidi começar a escrever. Não me levem muito a sério.
Fiquei surpreendida quando o Sapo destacou o meu post sobre a crise dos refugiados, até porque o fez passado algum tempo de o ter escrito, e isso trouxe mais pessoas ao meu blog (a todos agradeço a visita e os comentários, independentemente de concordarem ou não). Continuo a ter a mesma opinião - devemos ajudar os refugiados. Como? Com conta, peso e medida. Muitas pessoas não estão a par dos procedimentos que envolvem um pedido de asilo - podem ler este guia do SEF que explica os passos a tomar. Se em países como Alemanha, Áustria ou Inglaterra onde os refugiados chegam aos milhares, todos os dias, é mais difícil controlar acho que em Portugal não vai ser assim tão complicado lidar com o fluxo de refugiados. Ademais, aqueles que queiram usufruir das condições especiais para os refugiados têm de seguir este processo e submeter-se às leis portuguesas, como todos nós. Não, não me considero uma pessoa ingénua e sei que há muitos que podem não vir por bem, sei que podem haver terroristas pelo meio e que é difícil garantir o controlo a 100%. Mas em algum sítio vivemos 100% seguros? Há sempre crime e insegurança, isso é uma certeza da convivência humana. Logo, a todos aqueles que não aceitem submeter-se às nossas leis nem queiram ser registados como refugiados, lamento mas voltem para a terra de onde vieram.
Tenho observado, com alguma estupefacção, a partilha de vídeos que visam mostrar como os muçulmanos são maus. Vi reportagens que já têm ANOS de existência, onde a violência é cometida por muçulmanos que NASCERAM nos países onde os vídeos se registam. Vejo vídeos onde só mostram a parte que interessa para defender que não devemos receber refugiados na Europa; depois, quando vamos ver os vídeos na íntegra afinal aquilo não foi nada assim. Mais, há actualmente um grupo no Facebook que está a organizar uma manifestação contra a vinda de refugiados que já conta com quase 17 mil - DEZASSETE MIL - pessoas. Já ouvi gente dizer 'é bem feito que venham e façam um atentado, depois aí é que eu me rio'. Gostaria de ouvir as gargalhadas se perdesse um familiar. Esta gente tem noção das barbaridades que diz?
Mas aquilo que me faz mesmo muita confusão e me deixa verdadeiramente triste é a falta de solidariedade dos portugueses. Tenho visto por todo o lado argumentos como 'Vêm roubar trabalho'; 'Devíamos era ajudar os nossos'; 'Eles só estão bem a destruir tudo, são todos terroristas'. Se um sírio, sem falar português e sem conhecimentos, conseguir roubar o trabalho a um português isso não abona em nada a favor do português. Ajudar uns não implica deixar de ajudar os outros - isso é como dizer que não se deve ajudar animais porque há pessoas a passar fome. Eles estão a fugir disso mesmo, de terroristas. Gostam tanto de levar com bombas como nós, daí estarem a F-U-G-I-R!!
Peço a todos os que estão a ler este texto que parem um minuto e respondam a esta questão: O que acham do Holocausto durante a II Guerra Mundial?
Já responderam?
Agora respondam a esta: Daqui a 50 anos querem ser lembrados como aqueles que não evitaram a morte de milhares de pessoas por acharem que vos vinham roubar o trabalho? Ou querem ser lembrados como aqueles que acolheram famílias desfeitas que estavam a ser chacinadas no próprio país?
Sim, também sei que neste caso os riscos securitários são superiores, daí que seja a favor de um controlo restrito de quem vem. Mas isso é diferente de deixar afundar barcos só porque vem lá o Papão do Islão.
No fundo os refugiados são migrantes, na medida em que saem de um sítio para irem para outro. Mas vão para outro sítio em busca de refúgio, logo o drama na Europa é de refugiados e não de migrantes.
Este é um tema que tenho acompanhado de perto, desde que os refugiados iam só até Lampedusa. Na altura outros países da Europa achavam que a Itália tinha de reforçar as fronteiras mas poucos se mostraram disponíveis para ajudar a Itália - porque o problema era deles. Aquilo que já se previa era que os refugiados não se iam ficar pela Itália e agora temos em Calais o resultado da União Europeia em geral (e certos países em particular) ter ignorado por completo este problema. Agora o Sr. Cameron (e eu até simpatizo com o senhor) já acha que se deve fazer alguma coisa. Já era tempo dos países da União Europeia perceberam que a União Europeia não são os outros, somos todos nós e devíamos cada vez mais pensar em conjunto. Porque é mais o que nos une do que aquilo que nos separa.
Na minha perspectiva devíamos começar por chamar as coisas pelos nomes - refugiados e não migrantes-, reforçar as fronteiras nas zonas mais problemática (Grécia e Itália) e tentar que os países da União recebam condignamente os refugiados, na medida das suas capacidades, mantendo a solidariedade para com estes povos e não esquecendo que a Europa nem há cem anos também viveu uma guerra. Mas isto só pode ser feito de forma conjunta.
“We are only as strong as we are united, as weak as we are divided.”
Nota: Quem souber de quem é esta citação ganha um prémio.
Vá, ganha uma menção honrosa neste meu canto, também já não é mau.