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Tenho opiniões sobre muita coisa, gosto de discutir ideias e gosto de ler. Como já ninguém me ouve, decidi começar a escrever. Não me levem muito a sério.
Sim, já venho atrasada, foi ontem. De facto não costumo ligar muito ao dia da mulher, acho que a celebração das mulheres deve ser feita todos os dias. Por nós, pelos maridos, namorados, amigos, filhos, netos, primos, o que seja. Ser mulher é difícil, mas é também especial. Somos dez pessoas diferentes por dia - profissionais empenhadas no trabalho, amantes fervorosas, amigas compreensivas, shopping partners, gatas curiosas e observadoras do mundo, distantes nas viagens de transportes onde quem olha para nós não nos consegue ler.. Somos tudo isto e muito mais, todos os dias.
Somos também o sexo fraco, a maior parte dos casos de violência são contra mulheres, e não apenas doméstica. Violações a mulheres e meninas, assaltos, discriminação. E não falo numa discriminação 'violenta'. Falo em não sermos levadas a sério nas mais variadas situações. Quando tirei a Pós-Graduação, numa área tradicionalmente de homens, inicialmente ninguém me levava a sério. Éramos duas raparigas (as que iam regularmente às aulas) no meio de rapazes e eu ainda assim sentia que me levavam menos a sério do que a ela. Sim, eu chegava à faculdade de saltos altos e batom encarnado, mas porque é que isso tem de ser visto como incapacidade intelectual ou desinteresse? Porque é que um estilo mais desportivo (contra o qual não tenho nada contra) é sinónimo de uma mulher mais interessada na matéria? Tinha um amigo a tirar a Pós-Graduação comigo e até cheguei a comentar com ele a situação e ele disse 'não ligues, sabes bem o teu valor'. Mas foi difícil. Não ao ponto de arrancar cabelos ahah mas custa ouvir coisas como 'Ah pensei que estavas a tirar o curso por causa dele' (o tal amigo). Sim, porque para facilitar o raciocínio e a razão pela qual estava ali surgiu a teoria de que namoravamos e eu estava ali numa de controlo. Para que conste, esse amigo é casado e eu tenho uma relação há 7 anos, logo nem sequer a questão se colocava. Entre colegas ainda fui dando o desconto, mas o pior foi quando um Professor (uma besta quadrada que aparece na TV em comentários) insinuou o mesmo em relação a esse colega e me disse 'Eu não sei porque é que a menina está aqui, eu não sei se tem interesse nestas matérias'. Eu estava então a gastar 2000€ em propinas + livros só porque não tinha onde gastá-los e porque o meu suposto namorado também estava. Que estupidez uma mulher pensar pela própria cabeça.
Em resumo, e dado que o texto já vai longo acho que dos piores tipos de discriminação que existem face ao sexo feminino é a ideia que só há dois tipos de mulher, bonitas/arranjadas ou inteligentes/interessantes, sendo mutuamente exclusivas. Deparamo-nos com isto na faculdade, nos trabalhos, nos convívios sociais.
E quanto aos meus colegas, acabaram os trimestres a pedir-me apontamentos e os meus trabalhos porque estavam surpreendentemente bons. Porque vinham de uma mulher.