Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]


Vive La France!

por Miss F, em 16.11.15

Antes de escrever este post pensei muito. Pensei que muita gente ia escrever sobre o mesmo e que, se calhar, eu ia ser apenas mais uma. A minha vontade foi na sexta-feira escrever logo, mas antes de escrever, toldada pelo ódio e pelo choque, quis pensar bem naquilo que queria e devia dizer. De todos os assuntos que há para falar no Mundo poucos me fazem saltar mais as entranhas do que o terrorismo. Por força da licenciatura que tirei tenho estudado as questões de segurança, o que inclui naturalmente o terrorismo. Aviso desde já que este vai ser um texto longo, porque falar sobre estes assuntos nunca pode (nem deve) ser uma coisa simples.

 

Repugna-me sobremaneira atentados em solo Europeu. Repugna-me que o país que nos deu a Liberté, Fraternité, Égalité seja atacado no seu coração, pela segunda vez em menos de um ano. Se é verdade que há durante o ano muitos outros atentados, como aconteceu no Líbano ou na Nigéria, a verdade é que esses não me chocam tanto. Se sou insensível por dizer isto? Não acho que o seja. Acho que, ao contrário de muitos, não sou hipócrita. A verdade é que há países onde a existência de atentados está na normalidade quotidiana. Se deve ser assim? Não, acho que todos merecem ter paz. Mas não sou ingénua, sei que há locais onde é difícil existir paz. Nestas alturas aparecem sempre os arautos da solidariedade, criticando quem escreve Je suis Charlie e quem coloca as cores de França no Facebook, querendo situar-se moralmente acima dos restantes, só porque também se preocupam com outros locais do mundo. Meus amigos, não sejam hipócritas. Cá dentro, no âmago do nosso ser, todos sabemos que este ataque a Paris (tal como ao Charlie Hebdo no início do ano) nos causa maior desconforto e mais medo do que vinte ataques no Médio Oriente ou em África. A mim, como portuguesa e europeia, causa-me maior transtorno emocional um ataque na Europa. Hoje, admito-o, saí à rua com medo. Qualquer barulho ou qualquer reacção mais fora do normal fez com que me sobressaltasse. É uma reacção irracional de quem sente o seu modo de vida a ser atacado. Desenganem-se se pensam que este ataque visa apenas Paris e França, este é um ataque ao modo de vida Ocidental. Não terá sido à toa que atacaram uma sala de espectáculos, restaurantes e bares. O objectivo é condicionarem a nossa liberdade - libertinagem para os terroristas - atacando aquilo que prezamos.

 

Depois temos a questão religiosa. Associamos as demonstrações de terrorismo na actualidade ao Islamismo, mas a acção deste grupo nada tem a ver com o Islão. Estamos a falar de um grupo terrorista que instrumentaliza a religião para legitimar a sua acção. A jihad que tanto apregoam nada tem a ver com aquilo que é a verdadeira jihad. A jihad é uma luta interior, uma guerra que os crentes travam consigo próprios para se tornarem melhores. Depois, há a outra jihad que tem como objectivo converter as pessoas ao Islão. E isto, meus amigos, não tem nada de violento. Quantos de nós nunca foram abordados por Testemunhas de Jeová, pela Igreja Universal do Reino de Deus e até mesmo por Católicos? É isto que significa a Jihad. Os ataques que o ISIS (e antes deles a al-Qaeda) faz nada têm de Jihad, é violência pura e dura que tem como único objectivo aterrorizar as pessoas. Se realmente fossem crentes no Islão saberiam que o Alcorão diz que ninguém tem o direito de tirar a vida a outra pessoa. 

Estes atentados têm outro objectivo perverso, que consiste em virar o Ocidente contra todos os muçulmanos, mesmo os moderados e os refugiados que fogem dos ataques do ISIS. Com estes ataques o ISIS consegue gerar o ódio e o desprezo pelos muçulmanos, fazendo com que pareça que realmente existe uma guerra de civilizações. Não se esqueçam, por muito ódio que este tipo de ataques possa fazer crescer dentro de nós, que os refugiados estão a fugir daquilo que aconteceu em Paris, nada mais do que isso. Odeiem os terroristas, não odeiem os que fogem deles.

 

Por último, e porque o texto já vai longo, é importante que todos percebam que estamos em guerra. Não uma guerra contra outra religião, mas uma guerra contra a violência e contra o terrorismo. Paris foi uma batalha que perdemos, foi um golpe na nossa liberdade e no nosso modo de vida, mas devemos sempre ter presente que o terrorismo é uma cobra de três cabeças, sempre que cortamos uma nasce outra mais forte que a anterior. É uma guerra que vai demorar, vamos por vezes sentir que estamos a perdê-la e que não há solução. Mas a solução passa por sermos solidários, por sermos livres e por, mais do que perder o medo, enfrentá-lo. Mostrar aos terroristas que vamos sempre continuar a lutar pelos nossos ideais de Liberté, Fraternité, Égalité. Porque não sabemos ser de outra maneira.

 

Hoje, mais do que nunca, Vive La France! Vive La République!

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 15:37


10 comentários

Imagem de perfil

Miss F a 17.11.2015

Se a lógica for ajudar os outros só quando todos os europeus estiverem bem, então temo que nunca ajudemos ninguém. Claro, só podemos ajudar na medida das nossas capacidades, mas isso é diferente.

Para mim não há justificação para o terrorismo. Sim o ocidente não tem agido de forma sempre correcta mas os terroristas estao-se nas tintas para o sofrimento do povo, se assim fosse não os matavam também. A crise de refugiados intensificou-se com a acção do ISIS, essa fábula que o ocidente é que tem a culpa é muito bonita mas não cola.
Imagem de perfil

Sofia a 17.11.2015

Ajudar sempre mas lá está nas nossas possibilidades e sem esquecer dos nossos!

Eu contribuo todos os anos para os presentes solidários, não sei se conheces?

Contribuo também para a causa animal e o meu IRS também vai parte para um associação. O terrorismo é medonho e não há justificação possível para tal acto, tanto que matam o próprio povo deles. Dizes que é fábula o ocidente ser isento de culpas, mas infelizmente tem é só ver as imagens do que fizeram nos países deles, por exemplo á procura de armas maciças que nunca encontraram, fazerem chichi para cima dos prisioneiros de guerra e filmarem e tirarem fotos e meterem na net , este foram os americanos, enfim ...
Imagem de perfil

Miss F a 17.11.2015

Atenção, eu não digo que o ocidente esteja isento de culpas. A culpa do ocidente começa logo com a forma como foram definidas as fronteiras em África e no Médio Oriente, sem ter em conta raças, credos e etnias, tendo apenas por base interesses económicos. Contudo, dizer que o ISIS é culpa do Ocidente para mim é uma fábula. Então as Baader-Meinhof, o IRA, a ETA foi culpa de quem?

Dizer que o ocidente tem culpa é a mesma lógica que dizer que uma mulher de saia tem culpa de ser violada porque se pôs a jeito. A culpa está sempre do lado de quem comete as atrocidades.

Essas situações naturalmente são lamentáveis e a intervenção dos EUA no Iraque é discutível. Mas sabes quem foi o catalisador dessa intervenção? Um alemão de origem iraquiana que inventou as informações sobre as armas, alegando trabalhar como engenheiro onde se estavam a fabricar as armas. Se tiveres curiosidade o nome de código dele era Curveball (já se encontram bastantes artigos sobre o assunto).

Comentar post



Mais sobre mim

foto do autor


Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2014
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D